terça-feira, 3 de maio de 2011

PAC realiza estudos em cinco bacias hidrográficas no Amazonas para construção de hidrelétricas

Áreas protegidas localizadas nas áreas estudadas podem ser alagadas e ecossistemas afetados caso as obras sejam confirmadas

Manaus, 02 de Maio de 2011

Elaíze Farias

Ecossistema que integram bacias hidrográficas do Amazonas correm risco de serem impactadas com propostas de hidrelétricas
Ecossistema que integram bacias hidrográficas do Amazonas correm risco de serem impactadas com propostas de hidrelétricas (Clóvis Miranda )
Cinco bacias hidrográficas localizadas no Estado do Amazonas estão sendo inventariadas pelo governo federal para que seja avaliada a possibilidade de construção de hidrelétricas, a exemplo de Belo Monte, no Pará: bacia do rio Negro, no Norte do Estado, Bacia do Sucunduri, Bacia do Acari e Bacia do Aripuanã, as três últimas na região do município de Apuí, a 455m28 quilômetros de Manaus, e Bacia do Jatapu.
Somente nas últimas três bacias, há nove unidades de conservação estaduais e pelo menos cinco federais de diferentes modalidades. Uma delas é a Floresta Estadual de Sucunduri.
Os estudos do potencial energética destas bacias integram o chamado PAC 5 e PAC Energia, mas os detalhes ainda são pouco conhecidos e o governo federal não fez a divulgação oficial do planejamento.
Sucunduri e Acari são bacias famosas pela grande diversidade de espécies animais e vegetais, além de uma fauna aquática de riqueza incalculável e de ser habitada por numerosas populações ribeirinhas.
Outra bacia localizada na divisa do Amazonas e Roraima, a do rio Jatapu, também está sendo estudada.
Ameaças
Izac Theobald, chefe do mosaico do Apuí, bloco que forma nove unidades de conservação estaduais, disse que a construção de hidrelétricas nestas áreas provocaria grandes danos ao meio ambiente, às espécies aquáticas e mamíferas, além de prejudicar o deslocamento e sobrevivência dos ribeirinhos.
Um dos maiores danos ocorreria na Cachoeira do Monte Cristo, de “forte beleza cênica”, não encontrada em outro lugar do mundo, segundo Theobald.
A margem da cachoeira é um habitat natural de várias espécies e é conhecido como “berço da anta”, para onde o animal se dirige para se alimentar de plantas aquáticas. “Com uma hidrelétrica, este local sumiria do mapa”, diz Theolbald.
A população de ribeirinhos também seria prejudicada, já que a presença humana nestas áreas é intensa.
“Estas obras poderiam comprometer o acesso dos ribeirinhos. A bacia de Acari, por exemplo, é rica em castanha”, disse ele.
O rio Sucunduri é afluente do rio Canumã e este, do rio Madeira. O Acari é afluente do rio Sucunduri. Este tem como principal característica o fato de encher e secar muito rápido, já que várias bacias deságuam nele.
Planejamento
O inventário sobre o potencial energético das bacias dentro do território do Amazonas faz parte um estudo maior do PAC Energia.
Ele analisa as localizações para fazer o reservatório de energia, área que seria alagada, potencial de megawatts e custos.
Em uma segunda fase, ocorrem os estudos de viabilidade técnica.
A realização dos estudos não foi divulgada oficialmente, mas uma cópia do levantamento foi apresentado ao portal acritica.com, extra-oficialmente, pela coordenadora de Energia e Infraestrutura Amazônia da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Telma Monteiro, que já desenvolve trabalhos sobre os impactos das hidrelétricas na Amazônia há vários anos.
Telma Monteiro vê com preocupação a realização destes estudos e planejamento de construir hidrelétricas no Amazonas. Segundo ela, a bacia mais prejudicada com a construção dessas usinas seria justamente a calha de todo o rio Amazonas.
O acritica.com entrou em contato com a assessoria de imprensa da Emprega de Pesquisa Energética (EPE), vinculada à Eletrobras, enviando por email perguntas sobre as obras de hidrelétricas na Amazônia e no Amazonas.
Como resposta, a assessoria apenas reiterou planejamento já conhecido (embora pouco divulgado) de que estão previstas pelo menos 20 hidrelétricas para a Amazônia até 2020.
As localidades não foram mencionadas porque, segundo a assessoria, o Plano Decenal de Energia não foi divulgado oficialmente pelo governo federal.
No último dia 21 de março, o Diário Oficial da União publicou que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) prorrogou o prazo para a entrega dos estudos do inventário hidrelétrico do rio Sucunduri, a pedido da EPE, para o dia de 30 de junho.
Relatório
Izal Theobald, que mora em Apuí, confirmou, contudo, que os estudos em Sucunduri e Acari estão sendo realizadas desde 2009, por uma empresa terceirizada.
“A gente só sabe da presença deles. Não nos procuraram. Vamos aguardar os resultados e depois nos manifestarmos, fazer um relatório”, disse Theobald.
Sobre as bacias de Aripuanã e Rio Negro, Theobald não soube dar informações a respeito dos estudos.